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terça-feira, 10 de junho de 2014

O engarrafador de nuvens

Ontem,

quando, como em todos os dias caminhava com destino laboral,
vi aquele homem.

Imagem sempre truculenta a entortar a paisagem urbana.

Decidido a não somente ver, me aproximei e sem maiores problemas
ele me disse que ali, engarrafava nuvens.

Era ele ali, suplemento de uma inusitada afirmação.

De pronto ele tirara do bolso um leão que vociferava nas pequenas paredes de vidro,
estava ali sua torre, teu forte.

Imóvel, ele me dizia que a velocidade das dores mundanas o presenteara com essa habilidade poética.
E que, para alguns, era ele terrível demais por engarrafar nuvens tão lindas.

Dizia ele que esta práxis epifânica o tirara seus maiores sonhos,
conviver com sua filha, pois engarrafar nuvens era tarefa de mentes inacabadas.

Preferiu a imobilidade da solidão a provar rua serenidade.

Preferiu trazer as mais diferentes imagens a suas garrafas vazias,
vazias como os corações dos transeuntes que por ali passavam,
a dissertar sobre tão avassaladora incumbência.

Sentou numa pedra
Pegou seu destino
Virou criança
Largou a esmera de se explicar.

Imóvel.
Engarrafa sobre si, seu caminho.

Curto,
porém insurrecional.

Estética negada,
por uma tão vigiada vida.

O engarrafador de nuvens.

Um comentário:

  1. "Sentou numa pedra
    Pegou seu destino
    Virou criança
    Largou a esmera de se explicar."

    Lindo, que lindo!

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